A parceria entre o Público e as Edições Asa tem feito muito pela divulgação da Banda Desenhada em Portugal. Uma colecção muito boa foi a que saiu em 2010, reunindo clássicos da revista Tintin. Esta colecção é composta por uma selecção dos melhores heróis clássicos daquela publicação periódica de referência que constituiu um suporte fundamental de divulgação de banda desenhada na segunda metade do século XX.
O número 4 da colecção foi dedicado a Michel Vaillant, reunindo dois álbuns, a saber: "O 8.º Piloto" e "Suspense em Indianápolis". As duas aventuras, realizadas por Jean Graton são inéditas em Portugal.
Michel Vaillant é um bom exemplo de um herói da BD popular, mas que foi quase sempre desconsiderado por muitos críticos.A série criada por Jean Graton nunca escondeu ao que vinha. Está inteiramente centrada no universo dos desportos motorizados, com destaque para a Fórmula 1, acompanhando de perto a vida e peripécias de um pequeno núcleo de personagens - o clã Vaillant.Ou seja, é uma obra de puro entretenimento, visando atingir o mais alargado espectro de leitores possível.A trama familiar é um dos factores de êxito da série, que trata os temas propostos com o máximo realismo e um exaustivo suporte documental. O patriarca Henri Vaillant, os irmãos Jean-Pierre e Michel Vaillant, o colérico americano Steve Warson e, mais tarde, Julie Wood (que teve série própria antes de ser integrada em Michel Vaillant) são os protagonistas centrais.A fórmula pode parecer-nos hoje singela, mas à época em que surgiu foi verdadeiramente inovadora.Os dois géneros em que assenta Michel Vaillant – aventuras desportivas e histórias de família - abriram um caminho que seria depois explorado por outros criadores. Mas coube a Jean Graton o mérito de ser o pioneiro.Os argumentos com que impôs a sua obra à estima dos leitores são fáceis de enunciar: realismo dos veículos e das corridas; desenho de leitura simples e narrativa de compreensão fácil; histórias comuns centradas nos problemas, dramas, emoções e comportamentos das personagens; e imersão total no universo do desporto automóvel.A série foi adaptada à televisão em 1967 e teve uma versão cinematográfica em 2003 - um protótipo Vaillant/Courage 41 com motor Porsche correu mesmo as 24 Horas de Le Mans em 1997, classificando-se em quarto lugar... Jean Graton já não desenha, mas conta com uma equipa de colaboradores (Christian Papazoglakis, Nedzad Kamenica e Robert Paquet) que asseguram a continuidade da série sob a égide do seu filho, Philippe Graton, que gere o filão Vaillant.
A série chegou a Portugal menos de dois anos após a primeira aparição na revista Tintin (edição belga): foi nas páginas do Cavaleiro Andante, que publicou entre 1de Novembro de 1958 e 10 de Outubro do ano seguinte a aventura O Grande Desafio (o herói chamava-se Miguel Gusmão).Michel Vaillant ainda voltaria a marcar presença nesta mesma publicação em 1960, mas foi sobretudo a edição portuguesa de Tintin que contribuiu para a mais ampla divulgação da série em Portugal, entre Junho de 1968 (com O Circo Infernal) e Abril de 1977 (O Circo de São Francisco).A personagem não foi privilégio daquelas duas revistas, tendo aparecido em outras publicações – O Falcão (em 1959), Bip-Bip (suplemento das revistas Foguetão e Cavaleiro Andante, 1961), Zorra (1964-65), Selecções (Mundo de Aventuras, 1980), Jornal da BD (1982), Almanaque Tintin (1983), Flecha 2000 (2ª série, suplemento do Diário Popular, 1985), Selecções BD (1ª série, 1988) e BDN (Diário de Noticias, 1990).A primeira edição de Michel Vaillant em álbum é da Editorial Ibis, em 1969 (A Honra do Samuraí), sendo depois publicados mais álbuns por outros editores.
Carlos Pessoa