segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Timothy Garton Ash - O Dossier. Sob a Vigilância da Stasi Alemã





Timothy Garton Ash nasceu em 1955 e é actualmente um jornalista e historiador respeitado. O seu livro autobiográfico, O Dossier (no original The File) conta a história do seu dossier coligido pela Stasi, a polícia política da ex-RDA, das suas memórias e de algumas das suas inquietações pessoais. Durante a sua juventude, em 1978, Ash foi viver para Berlim, a cidade dividida pelo ignóbil muro.
Achei especialmente fascinante a forma sucinta e certeira como o autor conseguiu descrever as profundas contradições vividas pela Alemanha nos últimos séculos: 

«Ali encontrei, também aquela proximidade íntima entre a alta cultura europeia e a desumanidade sistemática que George Steiner identificara na sua obra No Castelo de Barba Azul, um livro que me causara uma enorme impressão quando o lera, aos 17 anos. No meu diário chamava a este fenómeno "Carvalho de Goethe", por causa do velho carvalho do Ettersberg, perto de Weimar, sob o qual Goethe escrevera, ao que se dizia, a Canção do Viajante, mas que depois ficara encerrado no perímetro do campo de concentração de Buchenwald. Goethe e Buchenwald, o mais alto e o mais baixo da história da Humanidade, juntos num único lugar.»

 Ash foi viver para Berlim com o objectivo de aprender mais sobre a liberdade e a tirania. Nas suas palavras:
«Estava fascinado porque ali, na Alemanha de Leste, as pessoas viviam realmente aquelas escolhas difíceis e infindáveis entre colaboração com uma ditadura e a resistência a ela. Ali, podia procurar a resposta à questão Stauffenberg/Speer, por assim dizer, em tempo real.»

Quinze anos depois, com a queda do muro, a unificação alemã e a abertura dos arquivos da Stasi, Ash regressou para consultar o seu detalhado ficheiro construído com a ajuda de dezenas de informadores. O relato da sua leitura, do confronto com as suas memórias pessoais e dos seus diários da altura, as conversas com alguns antigos membros daquela polícia política, formam um todo narrativo viciante e inquietante, que pode ser lido como um (bom) livro de ficção. No final, resta a pergunta: o que é que faz uma de uma pessoa um Stauffenberg e de outra pessoa um Speer?

«(...)Não existe uma regra simples, uma explicação única. Todavia, enquanto aqueles que trabalharam para a polícia política me falam sobre as suas vidas sinto, uma e outra vez, que a chave está na sua sua infância. (...) Há o pai ausente: na guerra, morto em combate, ou algures num campo de prisioneiros de guerra. Há o pai que era um nazi ou o pai que era uma vítima dos nazis. A herança psicológica do nazismo e da guerra prepara os candidatos para o próximo episódio de ditadura. (...) Por vezes - na verdade, muito frequentemente - a Stasi aparece como um pai substituto.»



Timothy Garton Ash (1955 - )

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Max Hastings - "Finest Years"



Sir Max Hastings, reconhecido historiador militar, publicou uma biografia de Churchill que eu julguei capaz de ler, o que se veio a confirmar. Isso foi possível porque Hastings restringiu a investigação a um período claramente limitado de cerca de 5 anos, a saber, 1940-1945, durante o tempo em que Winston Churchill foi um "Senhor da Guerra", da Segunda Guerra Mundial.

Encontramos neste livro um relato completo, mas não exaustivo de um homem extraordinário e, mesmo assim, temos um "tijolo". Lembramos que tudo o que viveu antes de 1940 não é mencionado, como a sua carreira de jovem oficial na Índia, no Sudão, a sua participação na Segunda Guerra dos Boeres, a sua participação na Primeira Guerra Mundial enquanto Primeiro Lord do Almirantado e comandante do 6.º batalhão dos Royal Scots Fusiliers. Quase nada sobre a sua longa e intermitente carreira política antes de 1940 e nada depois de 1945. Pouco sobre os seus empreendimentos literários que em 1953 lhe garantiram o Prémio Nobel da Literatura. Sem dúvida, ler uma biografia exaustiva sobre ele é um empreendimento para uma década.

A leitura deste livro, confirmou algumas certezas que eu já tinha, como a sua capacidade de oratória e mobilização de pessoas. Mostrou também algumas coisas que eu desconhecia, como a sua frustração pela incapacidade demonstrada pelo exército britânico em vencer sozinho os combates, ao contrário da excelência demonstrada pela marinha e a adequação da RAF; a percepção do perigo Soviético no Leste da Europa; o desinteresse pela guerra com o Japão; a sua visão vitoriana do mundo e da guerra, onde golpes de mão e acções ousadas (por vezes inconsequentes) o fascinavam mais do que a estratégia da concentração de força.

No final, a amargura por perder as eleições a dias da rendição da Alemanha. A vida tem destas coisas e também tem livros destes.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

"O Homem mais indispensável do país"


Mycroft Holmes, por Sidney Paget



Sherlock Holmes tinha família e por muito que se tenha especulado sobre o assunto, apenas há um elemento que é referido nas suas histórias: estamos a falar do seu irmão Mycroft. Mycroft Holmes é referido em quatro contos: O Intérprete Grego, O Problema Final, A Casa Vazia e Os Planos Bruce-Partington, mas é apenas na primeira e na última destas aventuras que assume um papel determinante no enredo.
 Sherlock descreve assim o seu irmão em O Intérprete Grego:


«If the art of the detective began and ended in reasoning from an arm-chair, my brother would be the greatest criminal agent that ever lived. But he has no ambition and no energy». 
Ou seja, Mycroft só não superava o seu irmão na arte da investigação, porque era demasiado sedentário.Mais, tarde no conto Os Planos Bruce-Partington ficamos a saber que Mycroft Holmes desempenha um papel vital no governo britânico; Sherlock Holmes diz mesmo:


"Occasionally he is the British government [...] the most indispensable man in the country”.  

sábado, 9 de junho de 2012

"Just Dropped In (To See What Condition My Condition Was In)" (1968)



Pois é o LSD não faz bem, nem funciona como expansor das capacidades cerebrais de uma pessoa, apesar de nos anos 1960/70 muita gente achar que sim! Isto vem a propósito do tema "Just Dropped In" escrito por Mickey Newbury, que pretendia alertar contra os perigos das trips nas "LSD Airlines" :), que se reproduz abaixo.

Esta música tornou-se num grande sucesso dos The First Edition, que contava com Kenny Rogers na voz. Esta música encaixa que nem uma luva no brilhante filme de 1998 The Big Lebowsky, dos irmãos Coen, onde é tocada integralmente.




quinta-feira, 31 de maio de 2012

João Aguiar - Os Comedores de Pérolas (1992)



Em "Os Comedores de Pérolas", João Aguiar conta-nos a história de Adriano, jornalista de profissão e escritor nas horas vagas. Adriano é um homem de meia idade que parte para Macau em trabalho, mas também à procura de uma segunda oportunidade depois de um suicídio frustrado. Mas, inesperadamente, o seu trabalho de investigação histórica vai revelar-lhe verdades incómodas que o colocam no centro de uma intriga que fez e continua a fazer mortos.

Nesta história de sobrevivência, João Aguiar, está no seu melhor, mostrando mais uma vez uma grande sensibilidade pela memória. Este livro é um tributo a Macau e um mundo que em 1992 (1.ª edição) estava quase a acabar, é uma história sobre a angústia sorridente da iminente reintegração na China. «Este é um santuário último, onde é possível encontrar as tais desvairadíssimas gentes que às vezes já não se entendem na língua, mas ainda partilham uma tradição», podemos ler. Como sempre, o desprezo pela ganância («É o saque, diziam-me em Lisboa; aquilo é sacar enquanto se pode, antes de 1999. É abanar a árvore das patacas, a ver quem saca mais!») e a mágoa pelo esquecimento dos grandes Homens, perpassa todo o livro...«Com todos os seus defeitos, Vicente Nicolau de Mesquita e João Maria Ferreira do Amaral pertencem àquela raça, hoje extinta, dos portugueses que fizeram e durante séculos mantiveram Portugal como país».

Quando João Aguiar morreu em 3 de Junho de 2010 teve direito a um rodapé no noticiário da RTP1. Dias depois José Saramago morreu e acabou por inundar todo o espaço público. Como sempre, os pequenos portugueses só respeitam quem recebe prémios no estrangeiro, porque os grandes, como João Aguiar escreveu, já estão extintos.

João Aguiar (1943-2010)

terça-feira, 24 de abril de 2012

Mike Oldfield - North Star

Mike Oldfield durante o Festival de Jazz de Montreux (1981)


Se alguém levou a música para outro nível foi Mike Oldfield. Com  a qualidade dos clássicos e uma atitude  pop, foi sem dúvida uma das maiores dádivas que o cenário musical pós-beatles deu ao património da humanidade. Em 1981, no Festival de Jazz de Montreux confirmou mais uma vez a sua qualidade. Eis um exemplo, 'North Star':


(voz de Maggie Reilly) 


O Single 'North Star' (1979)