quinta-feira, 31 de maio de 2012

João Aguiar - Os Comedores de Pérolas (1992)



Em "Os Comedores de Pérolas", João Aguiar conta-nos a história de Adriano, jornalista de profissão e escritor nas horas vagas. Adriano é um homem de meia idade que parte para Macau em trabalho, mas também à procura de uma segunda oportunidade depois de um suicídio frustrado. Mas, inesperadamente, o seu trabalho de investigação histórica vai revelar-lhe verdades incómodas que o colocam no centro de uma intriga que fez e continua a fazer mortos.

Nesta história de sobrevivência, João Aguiar, está no seu melhor, mostrando mais uma vez uma grande sensibilidade pela memória. Este livro é um tributo a Macau e um mundo que em 1992 (1.ª edição) estava quase a acabar, é uma história sobre a angústia sorridente da iminente reintegração na China. «Este é um santuário último, onde é possível encontrar as tais desvairadíssimas gentes que às vezes já não se entendem na língua, mas ainda partilham uma tradição», podemos ler. Como sempre, o desprezo pela ganância («É o saque, diziam-me em Lisboa; aquilo é sacar enquanto se pode, antes de 1999. É abanar a árvore das patacas, a ver quem saca mais!») e a mágoa pelo esquecimento dos grandes Homens, perpassa todo o livro...«Com todos os seus defeitos, Vicente Nicolau de Mesquita e João Maria Ferreira do Amaral pertencem àquela raça, hoje extinta, dos portugueses que fizeram e durante séculos mantiveram Portugal como país».

Quando João Aguiar morreu em 3 de Junho de 2010 teve direito a um rodapé no noticiário da RTP1. Dias depois José Saramago morreu e acabou por inundar todo o espaço público. Como sempre, os pequenos portugueses só respeitam quem recebe prémios no estrangeiro, porque os grandes, como João Aguiar escreveu, já estão extintos.

João Aguiar (1943-2010)