quinta-feira, 21 de julho de 2011

Michel Vaillant - o 8.º Piloto; Suspense em Indianápolis




A parceria entre o Público e as Edições Asa tem feito muito pela divulgação da Banda Desenhada em Portugal. Uma colecção muito boa foi a que saiu em 2010, reunindo clássicos da revista Tintin. Esta colecção é composta por uma selecção dos melhores heróis clássicos daquela publicação periódica de referência que constituiu um suporte fundamental de divulgação de banda desenhada na segunda metade do século XX.
O número 4 da colecção foi dedicado a Michel Vaillant, reunindo dois álbuns, a saber: "O 8.º Piloto" e "Suspense em Indianápolis".  As duas aventuras, realizadas por Jean Graton são inéditas em Portugal.

Michel Vaillant é um bom exemplo de um herói da BD popular, mas que foi quase sempre desconsiderado por muitos críticos.
A série criada por Jean Graton nunca escondeu ao que vinha. Está inteiramente centrada no universo dos desportos motorizados, com destaque para a Fórmula 1, acompanhando de perto a vida e peripécias de um pequeno núcleo de personagens - o clã Vaillant.
Ou seja, é uma obra de puro entretenimento, visando atingir o mais alargado espectro de leitores possível.
A trama familiar é um dos factores de êxito da série, que trata os temas propostos com o máximo realismo e um exaustivo suporte documental. O patriarca Henri Vaillant, os irmãos Jean-Pierre e Michel Vaillant, o colérico americano Steve Warson e, mais tarde, Julie Wood (que teve série própria antes de ser integrada em Michel Vaillant) são os protagonistas centrais.
A fórmula pode parecer-nos hoje singela, mas à época em que surgiu foi verdadeiramente inovadora.
Os dois géneros em que assenta Michel Vaillant – aventuras desportivas e histórias de família - abriram um caminho que seria depois explorado por outros criadores. Mas coube a Jean Graton o mérito de ser o pioneiro.
Os argumentos com que impôs a sua obra à estima dos leitores são fáceis de enunciar: realismo dos veículos e das corridas; desenho de leitura simples e narrativa de compreensão fácil; histórias comuns centradas nos problemas, dramas, emoções e comportamentos das personagens; e imersão total no universo do desporto automóvel.
A série foi adaptada à televisão em 1967 e teve uma versão cinematográfica em 2003 - um protótipo Vaillant/Courage 41 com motor Porsche correu mesmo as 24 Horas de Le Mans em 1997, classificando-se em quarto lugar... Jean Graton já não desenha, mas conta com uma equipa de colaboradores (Christian Papazoglakis, Nedzad Kamenica e Robert Paquet) que asseguram a continuidade da série sob a égide do seu filho, Philippe Graton, que gere o filão Vaillant.

A série chegou a Portugal menos de dois anos após a primeira aparição na revista Tintin (edição belga): foi nas páginas do Cavaleiro Andante, que publicou entre 1de Novembro de 1958 e 10 de Outubro do ano seguinte a aventura O Grande Desafio (o herói chamava-se Miguel Gusmão).
Michel Vaillant ainda voltaria a marcar presença nesta mesma publicação em 1960, mas foi sobretudo a edição portuguesa de Tintin que contribuiu para a mais ampla divulgação da série em Portugal, entre Junho de 1968 (com O Circo Infernal) e Abril de 1977 (O Circo de São Francisco).
A personagem não foi privilégio daquelas duas revistas, tendo aparecido em outras publicações – O Falcão (em 1959), Bip-Bip (suplemento das revistas Foguetão e Cavaleiro Andante, 1961), Zorra (1964-65), Selecções (Mundo de Aventuras, 1980), Jornal da BD (1982), Almanaque Tintin (1983), Flecha 2000 (2ª série, suplemento do Diário Popular, 1985), Selecções BD (1ª série, 1988) e BDN (Diário de Noticias, 1990).
A primeira edição de Michel Vaillant em álbum é da Editorial Ibis, em 1969 (A Honra do Samuraí), sendo depois publicados mais álbuns por outros editores.

Carlos Pessoa

sexta-feira, 8 de julho de 2011

24 hour party people (2002)

O real Tony Wilson no programa So It Goes, em 1976.

24 Hour Party People (br: A Festa Nunca Termina) é um filme inglês de 2002 realizado por Michael Winterbottom. Para além da boa onda que perpassa todo o filme, vale a pena vê-lo porque é uma viagem pedagógica que acompanha a cena musical de Manchester do final dos anos 70 até o início dos 90.
Escrevo este "post" poucos dias depois de o ver pela terceira vez.

A sinopse do DVD diz o seguinte:
"Esta é uma história emocionante e engraçada sobre a ascensão e queda da Factory Records de Manchester, a etiqueta discográfica de Joy Division, New Order, Happy Mondays e o nascimento de um dos mais famosos clubes nocturnos do mundo: o Haçienda.
Tudo começa a 4 de Junho de 1976, no Lesser Free Trade Hall em Manchester, quando os fundadores deste bar se conhecem num enérgico concerto dos Sex Pistols. Motivados por esse momento, Tony Wilson (Steve Coogan) e o seu amigo Alan Erasmus (Lennie James) imaginam um projecto que iria mudar a indústria da música popular nas 2 décadas seguintes e colocar a cidade de Manchester no mapa.
Inauguram o seu próprio clube em Manchester - o Russel Club - onde fazem espectáculos com as suas bandas locais favoritas. Ali conhecem Rob Gretton (Paddy Considine) que se dá muito bem com Tony Wilson. Juntos formam a Factory Records. Contudo, a festa não dura sempre.
Uma história de música, sexo, drogas e de personagens grandiosos, 24 HOUR PARTY PEOPLE mostra-nos um homem que dá liberdade aos seus artistas, só que em troca é a sua ruína. O filme conta de uma forma gráfica a herança musical e dançante de Manchester desde o final dos anos de 70 até início da década de 90. 24 HOUR PARTY documenta o frémito que tornou Mad-chester no local onde todos mais gostariam de estar."

Trailer:

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Leão da Estrela



(Cartazes do filme O Leão da Estrela)
 
Realizado por Arthur Duarte no ano de 1947, o Leão da Estrela é um filme da chamada "idade de ouro do cinema português" (1930's/40's). Conta a história de Anastácio da Silva (António Silva), sportinguista ferrenho, que vai ao Porto assistir à Final da Taça, que o Sporting disputa com o FCP. É um filme sobre namoros e aparências, onde sobressai um eleco de luxo: para além de António Silva, o filme contava com Curado Ribeiro, Artur Agostinho, Milú, Maria Eugénia, Laura Alves e Maria Olguim. 

O filme contém algumas cenas de antologia que se reproduzem no vídeo em baixo. Já agora, convém afirmar que a vitória do Sporting foi uma ficção.
«(...) Um truque da sétima arte, já que esta partida nunca aconteceu. As imagens têm três origens e foram montadas pelo realizador, de forma que, no final, o Sporting vencesse, por 2-1. Como convinha ao enredo... "Extraíram-se imagens de um jogo do 'Jornal de Actualidades', que passava nos cinemas - creio que era dirigido pelo António Lopes Ribeiro - e, depois, em separado, filmaram-se imagens como a bola a entrar na baliza, a escolha dos campos, com um árbitro que era dirigente da arbitragem - Gameiro Pereira - e com os grandes heróis desse tempo os '5 violinos', a aparecerem em planos separados, que nada tinham a ver com o jogo. (...)". As cenas de bancada (...) "foram feitas nos estúdios da Tóbis", em Lisboa»
João Lopes, citando Artur Agostinho, no capítulo "O Leão da Estrela e a Andorinha de Prata", do livro 1946-1948. As oportunidades perdidas da oposição).